Lá vem ela: a dezembrite
Ansiedade e estresse gerados no fim do ano aumentam riscos de desenvolver – ou piorar – problemas de coração; cérebro, sono e estômago também sofrem nessa fase
Organizar a casa, montar a árvore de Natal, preparar a ceia, fazer check-up, organizar a papelada, arrumar o cabelo e comprar uma roupa, perder peso. A lista é imensa, mas esses são alguns exemplos do que acontece quando o calendário marca dezembro. É um corre-corre para fazer tudo ao mesmo tempo, na tentativa de receber o novo ano com tudo resolvido. Acontece que essas metas estipuladas, e toda a ansiedade que existe nesta época, não são nada saudáveis, e costumam estressar grande parte das pessoas. É a famosa dezembrite. Embora não seja exatamente uma doença, o clima gerado nesta fase pode sim prejudicar a saúde, e até mesmo piorar problemas já existentes. “Não há dúvida de que a sobrecarga de tensões e a necessidade desnecessária de resolver tudo até o fim do ano pioram as doenças crônicas, gerando essa dezembrite”, afirma o cardiologista do Hospital CEMA, Carlos Alberto Pastore (CRM 24264 / RQE 69372).
Você pode achar estranha a denominação, mas certamente conhece bem a sensação que existe nesta época. Quantas vezes você terminou dezembro com certa frustração por não ter conseguido fazer tudo, além do sentimento de cansaço e a certeza de que o começo do ano seria apenas mais uma fase cheia de dívidas para pagar, resoluções não concluídas e volta a velha rotina de sempre? Esse excesso de expectativas e ansiedade pode ser extremamente nocivo ao coração. Não à toa, nesta época aumentam as ocorrências em hospitais. “É mais comum do que imaginamos receber pacientes que desenvolveram algo grave, cujo gatilho foi justamente todo esse estresse de Natal e Ano-Novo”, detalha o médico.
Mas, o que acontece com o coração quando chega essa época? “O aumento da ansiedade estimula hormônios do estresse, como a adrenalina e cortisol, que aumentam a frequência cardíaca e a pressão arterial. Isso favorece infartos do miocárdio e acidentes vasculares cerebrais”, explica Pastore. Além do coração, o cérebro também entra em parafuso com tanta demanda e expectativa geradas nesta fase. O sono, então, nem se fala. São dias sem dormir bem, quando não virando noites em claro; afinal, que tipo de pessoa você seria se não visse os fogos de artifício na virada do ano? E o que dizer do estômago? Este também é um dos que mais sofrem com os excessos praticados em dezembro.
“O exagero na comida e o abuso do álcool nas festas trazem repercussões orgânicas importantes, principalmente para os indivíduos com pressão alta, diabetes, obesidade, entre outras doenças. Vale lembrar também que a bebida alcoólica aumenta a frequência cardíaca e favorece arritmias, além de aumentar a pressão arterial. Por isso, a dica é não exagerar”, diz o especialista. Evitar o exagero e conter a ansiedade. Essa talvez seja a dica número um para quem quer “sobreviver” a esta fase, sem passar pela dezembrite. Parece difícil, mas é possível. O grande segredo é fechar um pouco os olhos para o calendário, respirar fundo e relaxar. Será que você consegue?