“Memória da Dor” ajuda a explicar por que é tão difícil tratar dores crônicas
Especialista do Hospital CEMA esclarece o que caracteriza a dor crônica e o que é mais importante no tratamento da doença
Evidentemente, ninguém quer viver com dor. No entanto, muitas vezes, a demora ou negligência no tratamento de um episódio doloroso pode fazer com que o quadro se torne mais grave. É a chamada dor crônica. “É como se o cérebro criasse uma ‘memória da dor’, tornando-a mais resistente e difícil de ser tratada”, explica o neurocirurgião do Hospital CEMA, Joel Augusto Teixeira (CRM 73479 / RQE 15854). E a quantidade de pessoas que sofrem com esse quadro é bem significativa. No Brasil, o número chega a 37%, de acordo com a Sociedade Brasileira para Estudo da Dor (SBED).
Para que uma dor seja considerada crônica, ela precisa durar mais que três meses. Alguns estudos apontam que é necessário ter seis meses de episódios dolorosos recorrentes para que o caso seja considerado um quadro crônico. A partir desse momento, a resolução é mais difícil, tendo em vista as alterações que ocorrem no sistema nervoso. “Quando o problema se torna crônico, existem mecanismos complexos de manutenção da dor por alterações que ocorrem no sistema nervoso em diferentes pontos: nervos, medula espinhal e cérebro”, detalha o médico.
As causas da dor crônica são bastante variadas. Podem ser consequência de uma dor aguda, que não foi resolvida em um período curto de tempo, ou mesmo uma predisposição, embora a relação genética ainda não tenha sido confirmada por estudos. O principal sintoma é a duração do quadro. O especialista ressalta que, geralmente, grande parte dos episódios dolorosos estão relacionados a uma doença, mas é possível que a dor seja a própria enfermidade. “A dor crônica pode vir de um problema muscular que não se resolveu num curto período de tempo, como também de uma enxaqueca. No primeiro caso, a dor é secundária à inflamação. No segundo, é a própria doença”, diz o neurologista do CEMA.
Embora exista uma série de medicações para tratar episódios dolorosos, como anti-inflamatórios, analgésicos, opioides, anticonvulsionantes e antidepressivos, é importante investigar a causa para o tratamento adequado. Em alguns casos, o médico pode indicar fisioterapia e prática de atividades físicas específicas. Em outros, cirurgia. Tudo vai depender da causa. O mais importante, em situações de dores crônicas, é buscar ajuda médica, o quanto antes, para evitar que um episódio pontual se transforme em problema para a vida inteira. “A melhor forma da dor não evoluir para crônica é fazendo tratamento precoce, logo que ela começa”, finaliza o especialista.